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Por Onã Rudá

A presença de mulheres no futebol não é novidade, mas elas enfrentam inúmeras dificuldades para praticar o esporte, sobretudo a falta de investimento. No futebol de amputados, a empatia e colaboração abrem espaço para uma configuração diferente dos times tradicionais, os times podem ser mistos, compostos por homens e mulheres. 

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Nesta reportagem a minha entrevistada é Carol Lima, uma das duas mulheres que passaram a compor recentemente o quadro dos atletas do Futebol de Amputados do Esporte Clube Bahia e ela contou um pouco da sua história, rotina do clube, a presença de mulheres e muito mais.

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Residente em Lauro de Freita, Carol Lima trabalha em home office, atualmente ela não vive da atividade de atleta e além do futebol de amputados também faz treinos na academia. Confira a entrevista na íntegra. 

E as mulheres no futebol de amputados?

Onã Rudá: Quando foi que surgiu a sua paixão pelo futebol? 

Carol Lima: Eh!... Desde nova na verdade, antes de ter o câncer eu já jogava muita bola e aí depois eu acabei conhecendo uma pessoa que fazia parte do time e acabei sendo convidada pra jogar também. 

OR: Foi aí que você decidiu que você ia ser atleta? 

CL: Sim! Criei a paixão pelo jogo e tudo mais…

OR: Conta pra gente como é que foi esse momento que bateu “hoje, eu quero ser atleta”. 

CL: Olha, no começo eu pensei em desistir, porque eu achei muito difícil, mas o incentivo, né, do time em mim, falando olha, hoje você tá melhor, cê tá vendo? É tanto que uma pessoa do time chegou e me falou assim, cê tá vendo como é que cê mais rápida, mais ágil? Aí eu falei, “não”… aí ele “mas eu consigo enxergar isso. Presta atenção pra você ver.” Aí foi que eu comecei a pensar melhor sobre isso. 

OR: Qual foi o primeiro jogo que você assistiu? 

CL: Foi o Campeonato Baiano. Eu vim assistir o Campeonato Baiano deles aí eu fiquei apaixonada e também com medo, né? Parece ser um pouco agressivo, mas na prática não é tão agressivo assim. 

OR: E qual foi a sua maior inspiração para tomar a decisão de fazer parte do futebol de amputados? 

CL: Minha maior inspiração foi minha mãe. 

OR: Sua Mãe? 

CL: É, ela me inspira em tudo. E é isso que faz eu não desistir das coisas. Sempre antes de em desistir eu penso nela.

OR: A sua amputação foi fruto de uma doença não é isso?

CL: Isso!

OR: Como é que foi pra você essa virada? Se puder contar contar pra gente e não se sentir desconfortável. Como é que foi esse momento pra você até chegar hoje aqui? Você tá brilhando aí sendo aplaudida pela torcida do Bahia, milhões com pessoas…

CL: Assim foi bem difícil no começo me adaptar e tudo mais, eu até pensei que eu não ia conseguir, só que com o dia a dia eu comecei a postar as coisas também no instagram e as pessoas começavam a me incentivar e isso foi me ajudando mentalmente, fisicamente também, e acabei, vi que no caso eu incentivo outras pessoas e isso me fez me sentir melhor, sabe? Aí, no caso, meu ponto hoje é o incentivo das pessoas. Eu sei que é um incentivo pessoas, então, é o que me dá força, né? 

OR: Como é o dia a dia da equipe? Tem treino todos os dias, quando é que vocês se encontram, quando é que tem jogos? 

CL: Tem treino dia de quinta, dia de sexta e dia de sábado. Fora isso, cada um faz outros exercícios, né? Uns malham, outros nadam e assim vai. 

OR: Como é que foi essa chegada no clube? 

CL: Através de outra pessoa, eu fui convidada através de uma pessoa que já fazia parte do clube aí eu vim conhecer e acabei frequentando. 

OR: Qual o principal título e campeonato que você participou? 

CL: Campeonato até então nenhum. Semana que vem já tem a Copa do Nordeste, né? Eu acho que creio que seja o primeiro. 

OR: Qual a sua perspectiva de futuro dentro do futebol de amputados? 

CL: Olha, a minha maior perspectiva no caso é vencer, né? Aprender e eu creio que eu preciso aprender muito ainda e estou disposta a isso, né? E também eu pretendo conhecer um time de futebol feminino. Não que os meninos sejam ruins, entendeu? É bom praticar com homem sim, mas eu quero que vai ser muito interessante com meninas também. 

OR: Quem foi o seu principal incentivador? 

CL: Eu fiquei encantada quando vi o instagram do time e isso não sai da minha cabeça, eu fiquei noites e noites sem dormir direito, só pensando nisso até que chegou o dia de vim. 

OR: Então o time inteiro me incentivou? 

CL: Sim, o time inteiro. 

OR: Como é a relação com a torcida e qual o maior público que você já teve em algum jogo oficial? 

CL: Eh, o jogo em Camaçari que a gente jogou, foi a maior torcida até então que eu tive. Tinha muita, muita gente mesmo ao redor observando, acompanhando, torcendo. 

OR: E aí depois do jogo? 

CL: Foi uma sensação muito boa, viu? Me senti muito grata por aquele dia e tipo, é inexplicável, sabe? A sensação, num dá pra sentir. Quando cê chega em casa, assim, cê parece que toma um banho e fica assim, nossa, eu vivi tudo isso, eu consegui.

OR: Esse foi o momento mais marcante da sua carreira? 

CL: Sim, foi o mais marcante. 

OR: E o momento mais feliz, foi esse também? 

CL: Também, foi o momento mais feliz. 

OR: E qual foi o mais triste? 

CL: Mais triste foi no começo eu achar que não iria conseguir. Eu andava e corria e ficava e parecia que eu não tava dando o meu melhor, sabe? 

OR: Já passou alguma situação desagradável no futebol? 

CL: Não, desagradável não. 

OR: Qual o maior desafio de ser uma mulher no futebol? 

CL: Olha, quando eu comecei, rolou algumas piadas, mas não das pessoas ao redor que estão ao redor, sabe? Mas sim, tipo Ah, como assim cê vai jogar bola? Comé que cê joga bola? Eu falei, tem como sim, há possibilidade sim. Tô aqui e é tanto que eu mostrei as pessoas que é capaz assim disso, né? Vê se for a maior coisa…

OR: Não existem abordagens que são feitas pelo menos no ambiente que anputados das quais a gente encontra no futebol tradicional, machismo? Eu falo do contexto geral mesmo, não do time em si. 

CL: Até então, não presenciei. 

OR: Por que você acha que existem pouquíssimos times femininos de aputadas? 

CL: Ah, para ser sincera eu não sei. Pode ser que… É tipo assim, as mulheres amputadas parece que se escondem mais do que os homens, né? E querendo ou não, alguns não tem paixão pelo futebol, mas tem aquela coisa, assim, tipo, se elas experimentarem e dar oportunidade pode ser que ela crie, sabe? Esse amor, aquela paixão e tudo mais. mas eu creio que é só isso mesmo. Elas se escondem muito e não se dá oportunidade de conhecer. 

OR: No futebol de amputados do Bahia só tem duas mulheres, você acha que a presença feminina deve aumentar? 

CL: Assim, eu imagino que sim e também espero que apareçam muitas meninas pra assim a gente conseguir montar um time feminino, né? 

OR: Existem mulheres em algum outro time da Bahia? 

CL: Ah, pelo que eu saiba não, mas eu ouvi dizer que tem um time feminino de futebol de amputados fora. 

OR: Em Osasco, né? 

CL: Eu não sei onde é lugar, mas existe. 

OR: Hoje existe alguma política que incentive as mulheres a entrarem no futebol de amputados? 

CL: Assim, campanha eu não sei dizer, eu creio que não, até então não vi, né? Aí no caso é. Não, não lembro de ter feito vista não. 

OR: Um jogador e uma jogadora ídolo pra você?.

CL:  É… Antes, quando eu era novinha, eu ficava muito focada na Marta, ficava muito. Agora no masculino, escuto muito falar de Cristiano Ronaldo mesmo. 

OR: Um sonho? 

CL: Eu creio que o único sonho que eu tenho mais agora é a casa própria. É porque eu moro de aluguel aqui, então.

OR: Você quer deixar alguma mensagem de incentivo pras mulheres amputadas que conheçam o futebol? 

CL: Assim, o recado que eu deixo pras meninas é que, na área mesmo de Salvador, até mesmo de fora, tem como, a gente aqui se ajeita e se você tem vontade, se você quer conhecer experimente, venha, será muito bem-vinda e é isso, vai ser muita coisa por todos nós.

Acesse o vídeo da entrevista, aqui.
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